quarta-feira, 3 de julho de 2013

Frances Murray, 1981


A PALAVRA É JAZZ

Quando eu, Iaqub Almansur, morrer,
voltarei para buscar

aquele dia 3 de fevereiro
que não entrei
no mar

os acordes de jazz
que não escutei
no Cotton Club

as mulheres
que não desnudei na cama
da pensão Gallo de los Vientos

os ventos
que não recolhi
dentro da boca

Ruth Thorne-Thomsen, 1979


MELÃO NO FUNDO DA CISTERNA

Quando eu ando, apesar de velho, ainda cortejo a princesa da Babilônia. O espírito mais profundo, o espírito de frescos fogos, também tem de ser o mais frívolo. Eu, que não passo de um velho, sou melão no fundo da cisterna, raspo a craca e a ferrugem das canoas com a pedra pontuda que colhi atrás da maré.

Michael Northrup, 1974


A MUDA ORAÇÃO DA PREGUIÇA

Fumando certa fruta das plantas, rezo a muda oração da preguiça deitado numa rede do Ceará. Como se fosse domingo e nem era sábado, faço um buraco na minha cabeça por onde penetra a tempestade que vai derrubar da árvore dentro de mim tudo o que está podre e roído pelos vermes. Onde respiram as virgens no paraíso? Não longe de onde saiu a pergunta.