sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Paul Biddle, 2009


O PEIXE CAPELO
(Synaptura lusitanica)

Todas as coisas foram feitas por meio da palavra,
e, sem a palavra, coisa alguma foi feita de quanto existe.

Visto por esse ângulo, também foram feitas por meio da palavra as coisas a seguir: xícara, aqueduto, quartzo, baleia azul, prego, abismo, avenca, arroz, Confúcio, Hitler, mel, urina, música de Bach, veneno da mamba negra, violoncelo, esporão da agave, a passacale de Buxtehude, calabouço, biombo, água, Taj Mahal, fezes, ácaro, gânglios, latrina, termas de Caracalla, o peixe Capelo (Synaptura lusitanica), o aquoso das plantas, algodoal, chá do Ceilão, mantras de Aruanda, chuvas nos arrozais da China, hieróglifos, um lápis na península, cachaça, a voz da Sibila.

A palavra nunca se reduz a um bibelô de inanidade sonora,
porque a palavra deseja sempre ser a carne
daquilo que está sendo pronunciado.

A voz da Sibila
toca o vento
para tocar o meu ouvido.

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