segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Édouard Boubat (1923-1999)

ESTA É A CONFIANÇA QUE TEMOS EM DEUS:
SE LHE PEDIMOS ALGUMA COISA,
SEGUNDO A SUA VONTADE, ELE NOS OUVE.

(1 João 5, 14)

Pés de ouro equilibram-se em peixes. Inciput erat verbum: no princípio era a palavra. A palavra é clarabóia sobre o pensamento escuro. Jesus cita as antigas escrituras para sugerir que somos deuses. Na fonte fria lavar cabelos, lavar cabelos na fonte fria. Pés de pluma equilibram-se em águas. Tenho confiança em Deus e a Ele peço quatro coisas, segundo a Sua vontade:

a força da criança
a força da poesia
a força da música
a força do mar

Ver 8 obras
da Galeria Saatchi

Eberhard Weible

Dima Dmitriev

Désirée Ickerodt

Nurit Ward

Massimo Eleonori

Gustavo Sigal

Truls Espedal

Federico Lombardo


Algo
Li em algum lugar que o Tao (o Algo, o Deus) é aquilo que se ouve e não tem som: voz do silêncio: sopro: com esta voz "quase" inaudível o Tao criou, no vazio em que se refaz infatigável: a pedra e a chuva, o carvalho e o mar: e todas as outras coisas. Inciput erat verbum: no princípio era a palavra: uma das formas de honrarmos o pequeno sopro das palavras: pedra, chuva, carvalho, mar: é deixar que elas desvelem, e não nós, o que há de mais íntimo nelas. Há pouca matéria numa palavra que nem mar, por exemplo, um pequeno sopro. Há pouca matéria em todas as palavras, por isso elas são, algumas vezes, desprezadas. Mas elas sempre esposam o infinito. A palavra céu, para os hindus, é um ser vivo e não apenas uma palavra criada para a usura ou fins pessoais. Assim as palavras: ancoradouro, turmalina, adágio, veneziana: são seres vivos que jorram da terceira margem do rio e, como seres vivos, devem ser honrados. A palavra vendaval pra nada serve se não puder ser uma oração nas folhagens. Gerard Manley Hopkins: “Aquilo que olhamos atentamente, olha atentamente para nós”. Se olho a palavra chuva atentamente, ela olha atentamente para mim, com suas curvas líquidas, com seus mistérios divinos, porque só a palavra chuva é quem sabe de si. Shakespeare: “Se a palavra é sopro e sopro é vida”. Não que o Tao necessite de palavras, mas também o Tao aprecia comunicar-se através de palavras. Escutar o que sopra do Tao: isto é honrá-lo. O poeta é aquele que nunca sabe se vai pronunciar uma palavra criada pelo Tao. Igual uma criança que nunca sabe para onde vai a onda do mar ou as nuvens do céu, ele aguarda que o Tao (o Algo, o Deus) sopre: isto é honrar o jazz da vida, ou reverenciar a respiração do indestrutível.