sábado, 11 de abril de 2009
As duas jovens tatianas com flores de manga em torno do fino pescoço, as duas nadando em volta da barca abandonada à orla. O casco lateral furado, quilhas enferrujadas, mastros decaídos.
Há algo de sinistro na antiga barca que balouça junto ao capinzal à beira-mar.
Uma das jovens tatianas nada mais rápido que a outra, e traz dentro da tanga conchas azuis, mostra ao vento e ao céu, dentro da água, o feitiço de sua nudez queimada de sol. O que ela pronuncia poderiam ser palavras que indicam algo para a outra ver.
As palavras da outra jovem tatiana seriam as mesmas do idílio; a alma é que é outra, a alma e os longos cabelos negros. A que nada mais rápida em volta da barca abandonada é a própria cabeça da chuva, confunde-se nas águas do mar grosso; esta não é deusa nem santa, mas gente humana e confidencia segredos em prosa de sala.
Aqui a língua do salmão
aqui as cinzas do Espírito
aqui a nuvem equilibra o líquen
aqui a enciclopédia do cíclope
aqui o caqui ao lado do cabúqui
aqui a linha do trem é invisível
aqui o mar é de lençóis
aqui o açúcar não se molha no chuveiro
aqui a sombra de Johann Sebastian Bach
aqui o adágio atravessa o muro
Remédio de antigamente
http://www.youtube.com/watch?v=FDyWqXo806w
Yves Klein nasceu na França, em 1928, tendo falecido em 1962. Pintor, escultor e escritor francês, Yves Klein foi, desde cedo, influenciado pela arte abstrata de sua mãe Marie Raymond. Não teve educação artística formal, mas começou a fazer as suas primeiras tentativas na pintura em 1946, ano em que conheceu Arman, a quem se associou mais tarde no movimento Nouveau Réalisme. Entre 1949 e 1950, trabalhou na loja de molduras de Robert Savage, onde aprendeu as técnicas da pintura e da aplicação de folha de ouro. Em 1950 expôs em Londres os seus primeiros trabalhos e, no ano de 1953, exibiu uma série de pinturas monocromáticas em Tóquio/Japão. Em 1956, Klein alcançou grande notoriedade junto do público e da crítica, sobretudo através da exposição Yves: Propositions monochromes, na Galeria Colette Allendy, na Paris incandescente. Em 1958, executa os primeiros Anthropométries: impressões de corpos femininos cobertos em Azul, e apresenta os primeiros quadros vazios. Em 1960 foi membro co-fundador dos Nouveaux Réalistes e cria Cosmogonies, imagens criadas pela força dos elementos naturais (chuva, vento, folhas). No ano de 1961 realiza o primeiro relevo planetário e as primeiras imagens de fogo. Em 1983 tem uma retrospectiva importante no Centro George Pompidou (Paris, França) e, onze anos depois, em 1994, no Museu Ludwig (Colônia/Alemanha).
O venerável convida a menina para que sente em seu colo.
Quinze anos tem Laurinha; o venerável espera que saiam todos e a mão com o grosso anel de ouro enfia-se no musgo entre as coxas da menina que ainda não sabe, que ainda não pode saber.
Os lábios molhados da menina, a nuca perfumada, o repique dos sinos. Alguns padres desfiam o rosário no átrio.
Aqui é o balneário de Ó envolto em neblina, onde atracam as barcas que descem o rio. Folhas do tamarindo caem, num abandono previsível, e, se erguermos um pouco os olhos, deparamos também com aquele céo antiqüíssimo e monótono. Contudo, o que se percebe mesmo é que o vento e os homens, as pedras e as mulheres só cuidam de si, nunca desconfiam que, nesse minuto, na abadia de Wassal, o venerável Hans força a menina a ficar de quatro e a beijar o crucifixo.