terça-feira, 13 de outubro de 2009

Mais dia, menos dia descobre-se que há um tempo fora e um tempo dentro da gente. Às vezes, mais de um. O tempo de fora dita a hora, o dia, a estação. O tempo de fora é moldado pela natureza e também pelo engenho humano. E a gente deseja – e aceita - que o tempo de dentro responda a esse estímulo que nos chega pelos sentidos. A gente deseja que, às 17 horas do primeiro sábado ensolarado de primavera, também no tempo de dentro sinta-se um calor tépido, que deixe a alma macia. E a gente aceita que, no mais frio e chuvoso domingo do inverno, também na alma a umidade frouxa congele. Mas há uma contradição que atordoa: estar, no céu, o sol do meio-dia, e na alma o escuro de antes do nascimento do sol. Um escuro que impede a primavera de nascer também no tempo de dentro. Em qualquer dessas circunstâncias as palavras nascem. Mas a primeira deve ter nascido para celebrar a mais perfeita sintonia entre o tempo de fora e o tempo de dentro. E a segunda, certamente, para tentar arrancar do peito, pelo Verbo, a pesada pedra que tudo sepulta quando essa sintonia se quebra. E se assim não sentem, como podem os anjos compreender os homens?

Míriam Santini de Abreu

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