sexta-feira, 30 de outubro de 2009

De uma das estantes da modesta biblioteca que possuo aqui no casarão colonial, retiro um livro de Jorge Luis Borges.

Cada livro devia ser escrito para ser lido com os olhos fechados.

Por isso, nos dias de chuvas pelas calhas, baixo as pálpebras e abro ao acaso o livro de Borges, onde leio: “Costumo pensar, então: este é um sonho, uma pura diversão da minha vontade e, já que tenho um poder ilimitado, vou produzir um tigre”.

Alguma louça na pia. Lavo, enxugo, guardo os pratos, as xícaras, talheres e nunca sei se sonho com gata ou peixe.

Se sonho com gata sem peixe, escuto certo murmúrio renascentista na Nuages gris, de Lizst.

Se sonho com peixe sem gata, viro água no talo foliáceo das algas, espumo, quebrando-me na aresta do granito.

Se sonho sem gata e sem peixe, saio das nuvens, levanto a fronte e escuto.

Se sonho apenas com gata, “e já que tenho um poder ilimitado”, ela se torna essa Lucana envolta em óleo perfumado.

Finalizando: se sonho apenas com peixe eu sonho o sonho do peixe.

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