quarta-feira, 3 de junho de 2009

Caída no lajedo da Casa do Sol, a velha senhora ainda pronuncia a palavra indiscernível: Qadós. Um pequeno aguar de onda marinha umedece o rosto de Hilda Hilst em decúbito dorsal no lajedo junto à árvore de tronco duro. Envolta em densos eflúvios de água de colônia, ela agoniza e não há cítara nem pedra que a ressuscite. Com arraia fincada em suas costas, com olho mítico tatuado acima do púbis, Hilda espanca com chapéus de chuva as janelas. Polidamente, alguém lhe serve marisco; é hum Anjo da Casa da agoa. Traz hua fatal cabeleira de limos, chêa de caracois, de michilhoens, ou caramujos, à cinta o Anjo traz um verdugo de çafio em talim de pelles de enguias. A diva chêa de céos interpreta Elza, na ópera Lohengrin, de Wagner. Os degraus estão já brancos com o orvalho, e é tão cedo que a sombra dos sicômoros entanca próxima da cortina de cristal para que eu contemple o vento nas ramagens. No altar as lágrimas da deusa Orín e cada lágrima cintila ou a deusa borda lágrimas na tempestade porque não voltarás? O marasmo dessa noite, através das cortinas de contas de cristal, olha para a ode que grafito sobre o dorso melancólico do peixe persa.

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