terça-feira, 5 de agosto de 2008

Kamil Vojnar, 2008

A NUA NA PRAIA DE MATSUO BASHÔ

Amigos, inimigos,
não acordem a banhista nua
na praia de Matsuo Bashô.

Ela nem sabem que o arcanjo
podia vir acordá-la com pizicatos de violoncelo
e pecados marinhos.

Tomara nunca venha.

Só assim a adormecida continua nua.

Cartier Bresson

TREVAS

Horrida nostrae mentis purga tenebris,
accende lumen sensibus.
(Dissipa as trevas horríveis de nosso espírito
e acende a luz de nossos sentidos).
Anônimo


Sob o linho castiço da chuva,
a treva horrível de nosso espírito
vocifera claros nomes serenos.

Atravesso o deserto
com uma pedra no fundo do poço.

Tanto azul de águas, mas a pedra,
taciturna monja sem sol,
nada espera, é só uma pedra
envolta em antigo silêncio.

Bem no fundo do mar de Abrolhos,
esta pedra, seca por dentro.

Tudo se pode falar:
a transparência contínua,
a praia com bicicletas.

Anon, 1910

MARCA D’ÁGUA

E todos os jardins suspensos do fundo mar
se curvaram
quando ela passou.

Se ela te abraça é uma semana de barcos.
Pertence a quem não marca seu céu.
Onde não enraíza espelho: ali ela respira.

Sua essência marinha não erra ponta de cardume.

Abana o azul com leque.