quinta-feira, 3 de abril de 2008


Paulo Leminski e Alice Ruiz
FRAGMENTOS DE CATATAU

Dentro de poucos instantes não vai acontecer nada,
tomem cuidado.

O problema com o mundo dito exterior, vulgo realidade objetiva, é que não faz distinção entre tanto e tanto faz.

Toda pérola tem seu dia de ostracismo.

Nunca fui aí. Joça posso com juçara, mas aposto que quem jaguara jagunço com bagunça de taquara eu jurara que não fosse tanajura na chula taba de Guardalajarra!

O poliglota analfabeto, de tanto virar o mundo, ver as coisas e falar os papos, parou para pensar ao pé de uma montanha. Assaltaram-no dois pensamentos. Um na língua materna, outro em língua estrangeira. O primeiro fez a pergunta, o outro respondeu. Resultado: sou pai de minhas perguntas e filho de minhas respostas.

Nada como um ano dentro de um dia, nada como a eternidade num lugar.

A pressa é a mãe do precipício.O pensar emite espetáculos.

Como era mesmo o nome daquele rio de quem diziam horrores da amnésia que dava na hora da senha, bebiba sua água? Não brinca... Mesmo? Que bom, mamãe, olha, estou órfão! Quem vai embora, não embolora.

Tudo feito, nada dito; estamos feitos. Não é possível dizer essa frase com essas mesmas palavras.

Quando se come é que se vê como a natureza foi sábia em colocar o boi no prato e o homem na cadeira.

Depois de um caminho que não era para se demorar, o peso do deserto do mar.

Livro, já estiveste dentro de um sonho e te fiz para despertar porque o sol é melhor que o sonho! Desconfio da dúvida, incorro numa certeza: zombo de esquecimento.

Alma, entra dentro de ti mesma, o alvo não passa de um espelho.

O gorila olha o espelho e vê Descartes, Cartesius recua o gorila, e pensa, desgoralizando-se rapidamente.

Quem fala? Muitas vozes falam dentro da minha cabeça mas a voz, só minha.

Outra vida, que esta não está dando para o gasto.


Paulo Leminski

A seleção dos textos acima é de Rodrigo Garcia Lopes (www.estudiorealidade.blogspot.com)