Hilda Hilst na Casa do Sol, 1967
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
A MÚSICA SONHA CISNE
E VASOS DE BARRO
Vasos de barro, onde cisne e música somem.
Se olham --- cisne, vasos de barro, música ---
imersos na voz, aderidos ao corpo
que logo finda neles --- os dourados,
com música transbordando de vasos de barro
moldados pelo sopro do cisne que os dias desdouram,
como se a mais alta sina fosse perder
vasos de barro, música, voz.
Os dourados somos todos, esquecidos
do corpo que, antes das constelações,
silenciava uma prímula, um grão
de lua na altura do peito,
na altura do peito dois vasos, não de barro,
de seda fina do arrozal, dois pulmões, dois cisnes:
vasos de música
E VASOS DE BARRO
Vasos de barro, onde cisne e música somem.
Se olham --- cisne, vasos de barro, música ---
imersos na voz, aderidos ao corpo
que logo finda neles --- os dourados,
com música transbordando de vasos de barro
moldados pelo sopro do cisne que os dias desdouram,
como se a mais alta sina fosse perder
vasos de barro, música, voz.
Os dourados somos todos, esquecidos
do corpo que, antes das constelações,
silenciava uma prímula, um grão
de lua na altura do peito,
na altura do peito dois vasos, não de barro,
de seda fina do arrozal, dois pulmões, dois cisnes:
vasos de música
Ver Pasolini lendo um poema
para Ezra Pound
http://br.youtube.com/watch?v=0YJSG1C3sF8&mode=related&search=
para Ezra Pound
http://br.youtube.com/watch?v=0YJSG1C3sF8&mode=related&search=
BANHISTA DE VALPINÇON
Cavaleiros negros,
cavaleiros negros com sóis tatuados no peito,
cavaleiros negros cortam a cabeça
da banhista de Valpinçon,
arremessam ao ar.
Cabelos e olhos entre nuvens.
Cavaleiros negros batucam o tambor,
que já não pode ser ouvido pela cabeça
arremessada ao ar,
alta,
entre nuvens,
--- rememorando ancestrais ---
uma cabeça no azul gelado.
Cavaleiros negros,
cavaleiros negros com sóis tatuados no peito,
cavaleiros negros cortam a cabeça
da banhista de Valpinçon,
arremessam ao ar.
Cabelos e olhos entre nuvens.
Cavaleiros negros batucam o tambor,
que já não pode ser ouvido pela cabeça
arremessada ao ar,
alta,
entre nuvens,
--- rememorando ancestrais ---
uma cabeça no azul gelado.
REVELAÇÃO
Esculpido na água viva da constelação
--- durante o século I dos linces ---
eu, Juliá, moro teu azul de oásis,
oásis com cadáveres obcecantes.
Moro teu azul de oásis
--- dolorido, com esperas soçobradas ---
um corpo, um ancoradouro de aparições
que são ventanias, depois trevas,
porque foi sempre assim a loucura:
estarmos aqui de improviso, as frontes
apenas aparentes, lágrimas
acendidas sob a máscara, nossa febre suave
e uma palmeira --- alta como a ressurreição ---
inclinada simples e musical na noite clara.
Esculpido na água viva da constelação
--- durante o século I dos linces ---
eu, Juliá, moro teu azul de oásis,
oásis com cadáveres obcecantes.
Moro teu azul de oásis
--- dolorido, com esperas soçobradas ---
um corpo, um ancoradouro de aparições
que são ventanias, depois trevas,
porque foi sempre assim a loucura:
estarmos aqui de improviso, as frontes
apenas aparentes, lágrimas
acendidas sob a máscara, nossa febre suave
e uma palmeira --- alta como a ressurreição ---
inclinada simples e musical na noite clara.
O RASTRO
Se ali o céu, acúmulo de ar, ourografia nebulosa,
água corrente o céu --- via régia ---
linguaviagem em direção ao sabre lúcido,
à prosa da piscina vista do belvedere.
Ouçamos, pois, como soa o céu:
sem anular o sonho, antes o vivifica.
Se o céu parece comum,
é porque não o vimos ainda.
Despojar a palavra da palavra,
confessá-la em música.
O céu passou, mas o rastro do céu,
fixo nesta matéria fina de toda certeza
--- a palavra ---
permanece ao alcance do sopro
que a língua da tempestade cura.
Se ali o céu, acúmulo de ar, ourografia nebulosa,
água corrente o céu --- via régia ---
linguaviagem em direção ao sabre lúcido,
à prosa da piscina vista do belvedere.
Ouçamos, pois, como soa o céu:
sem anular o sonho, antes o vivifica.
Se o céu parece comum,
é porque não o vimos ainda.
Despojar a palavra da palavra,
confessá-la em música.
O céu passou, mas o rastro do céu,
fixo nesta matéria fina de toda certeza
--- a palavra ---
permanece ao alcance do sopro
que a língua da tempestade cura.
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