quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Miran


Sunyata

Gustave Doré (1832-1883)


CREDO QUIA ABSURDUM

Que a vir vê-las,
posso coroá-las antigas:
paraísas violas de relva.

Uma que voa
morde o calcanhar da estrela:
há fogo e há chuva.

Outra esparze o pó de Quevedo,
mas pó enamorado,
que a pouca poesia não ousaria entender.

Aquela enlouquece entre salsos pendentes:
escreve breviários, bestiários,
conduz o velame de certa barca sendo sonhada.

Por nós, os fracos, os de alma vil,
se perfumam,
às vezes espalham os cabelos nossos:
essas mulheres de vento.

Bette Davis



O gato angorá, envolto em neblina, penetra o umbral da igreja de Santa Francisca; o gato angorá, de rabo curvo e peludo, pisa macio o chão de pedra bem na hora em que inicia o culto das sete horas.

Para o gato angorá envolto em neblina, aqui nessa igreja todos têm carne de rato; o gato, por isso, os devora a todos menos o padre, porque o padre não é um rato, mas gato, e persa.

Este conto também foi publicado no blog do Solda cáustico:
www.cartunistasolda.blogspot.com